domingo, 30 de maio de 2010

eu-lírico

Sempre me pego buscando o "eu" nos outros ; Seja ficticio ou não.
Leio desesperadamente à procura de mim mesma no personagem principal ,à procura de um nome que se encaixe em mim. Ou ,por convivência social ,tento ser como os outros ,acreditando que isso iria formar um "eu";
Quem sou eu [?]
Sei meu nome. Sei das coisas coisas supérfluas que gosto. Mas isso não me forma. Não são as células que formam meu corpo. Nem a insustentável leveza da minha alma.
Alma... ? Sei lá o que é isso; Sei lá se a tenho.
O que sei sobre mim é que sou um Outono eterno; Sempre velha ,sempre morta ,sempre caindo...; Sempre aos pedaços ,sempre ao meio. Nunca o frio intangível do Inverno ,muito menos o calor insuportável do Verão . Aliás ,a isso agradeço esse meu Outono ,pois o calor é horrível ,cruel e insurgente. Não sei o que é calor ,mas não gosto.
Acho que o desfecho para esta incessante busca é a insatisfação que sinto comigo . Me desprezo ,não me suporto . Finjo que não existo ,e me procuro no que provavelmente invejo - ou não. Ou talvez me procurei tanto em minha admiração que acabei perdendo a parte que eu supostamente admiraria. O que a faz ,talvez ,inexistente.
Não sei o que falta em mim. Mas sinto falta.
Não sou pedaço ,mas não me basto.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

thing

Me sinto incerta sobre mim. Sobre o que eu sei ou sabia ; É como se minha vida fossem folhas rabiscadas a lápis ,esboços e frases intermináveis...
E que agora ,alguém apagasse tudo isso ,deixando somente traços ilegíveis.
Provavelmente ,esse alguém sou eu.

Tudo tem sido uma busca incessante por um vazio sem consciência ; Como folhas completamente em branco ,sem marcas e respingos de tinta ,traços de grafite ou enrrugado por lágrimas.

Não sei se isso é dizer que não quero nada pra minha vida ,talvez,aliás ,seja.
O problema é o desejo louco que tenho de viver cinza.
Desejo platônico por um rosto inexpressivo e sem identidade. Ou que pelo menos eu possa viver nesse nada ,fingindo estar nadando.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

procura-se

Sempre que me falam de Ana
Fico com a impressão de não saber o bastante sobre a tal
Nunca sei, por mais que me contem
Mil causas e mil versões diferentes
Mas nenhum satisfaz a minha vontade de saber mais
Onde pode estar ?
Já cruzei mares, sertões e cidades
Alguns dizem que ela não existe
Outros dizem que ela vive pelo mundo, sumindo e aparecendo
Indo e voltando, sempre.
Continuo procurando, e quem sabe um dia nessa louca procura eu a encontre
Nem que seja só enquanto sonho,
Nem que seja só enquanto lenda,
Nem que não a encontre nessa vida .

quarta-feira, 12 de maio de 2010

sincronia

Muita coisa estranha vem acontecendo na minha vida. Não estranha no sentido de uma coisa completamente absurda e que ,ninguém sabe lidar pois ninguém sequer passa por isso. Não ,é aquela coisa que eu nunca espero ,ou que espero ,me preparo ,anseio... e quando acontece , eu não estou preparada. Então ,a coisa estranha sou eu. Pois eu me fecho num baú de sentimentos . Não permito que me vejam dentro desse baú ,os faço esperar o meu tempo pra sair e decidir. A outra coisa estranha ,é que as pessoas não podem esperar o meu tempo. Então ,após tentarem abrir e por fim desistirem de abrir esse baú onde me escondo ,elas também desistem de mim. Isso é estranho.
As coisas são complexas ,quando estranhas. Elas nunca fazem sentido...
Mesmo havendo um sentindo muito profundo por baixo desse véu horrível e obscuro do não compreensível.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

aprendizagem

Olho as pessoas e sinto um abismo imenso entre eu e elas. Não sei explicar ,só é frio ,solitário ,escuro ...e profundo.
Me sinto caindo nesse abismo . Me sinto me afundando em mim. Me sinto um abismo.

As pessoas me observam ,me falam ...falam...
As admiro . E muito . Deram à elas o dom da Fala ,a Voz...
e isso ,invejo. Porque eu ,falando ou não ,permaneço muda ,inexistente. No fundo do meu próprio abismo.

A maioria usa o verbo "Parecer" várias vezes nas frases. E vejo o quão limitada por eles eu sou...
Costumam dizer que eu aparentemente tomaria ou não determinada atitude ; que pensaria ou não de determinada maneira.
Mas ,até onde "Aparentemente" é decisivo na minha vida ?
E então eu percebo que as pessoas vêem o abismo por cima ,mas não daqui de baixo ,dos lados ,de dentro...
E então eu me vejo só. Só.

"Será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa ? " (Clarice Lispector - Aprendizagem ou Livro dos Prazeres )