quarta-feira, 27 de outubro de 2010

1/2

Então ,começou assim : pelo meio da folha, no fim de um caderno em branco. Pois sim ,lá ela cabia; lá o cheiro adocicado de solidão lhe era aconchegante.
Pena que ,conforme seu vazio aumentasse ,permitia que sua caneta chorasse as faltas de suas páginas ,sua vida.
Era fraca ,coitada ,e não suportava a si mesma por muito tempo.
Logo fechava o caderno ,sem terminar o versos mudos que há tempos ensaiara.
O depois era tanto faz. Choraria ,dançaria ,ou se procuraria nos rostos criados pelo e para o espelho.
Coitada.
Mas entenda ,ela quer viver...
Quer saber como é ter sangue.
Quer sentir . Quer ser.
Quer ser humana...
coitada...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sequela

Se há danos não sei.

Ainda há vendas nos olhos abertos ,
mordaça na boca que murmura ,
algema nas mãos que escrevem ;
e pintam todos os olhares,
todas as palavras ,todos os sons.

Há correntes nos pés incoordenados,
asas engessadas que voam livres
vestes de papel de seda,
processo sensorial do mundo interno
conduzido por vias indiferentes.

Se há danos... ainda não sei.

sábado, 14 de agosto de 2010

monólogo

Você não gosta de mim não é ?
Pode dizer, já consigo ouvir isso...
Eu mesma me digo isso, todos os dias.
Já me arrependi de ter te conhecido...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

in

As roupas estavam jogadas pelo chão ;
Os sapatos longe de seus pares . Os perfumes e maquiagens postos sobre a penteadeira de vidro.
E ainda não lhe era suficiente.
As roupas pareciam não lhe servir ; Os sapatos eram grandes e ainda ficavam apertados ; As maquiagens claras ou escuras demais , e os perfumes não lhe cheiravam bem...
Seu cabelo não alisava o suficiente ,não brilhavam o suficiente . Seus traços eram disformes ,seu corpo desproporcional . Sua voz não era doce . Faltava-lhe a voz !
O espelho não parecia lhe ajudar. Nem os conselhos . Nem a razão.
Porque no fundo ,era ela quem não era "boa" o suficiente...

... e até ele sabia disso.

terça-feira, 6 de julho de 2010

solipsismo

Viver é muito confuso. São muitas possibilidades. São muitas dúvidas.
É muita liberdade ; Tudo começa - ou termina - por uma escolha ,e a liberdade para fazer essa escolha é ilimitada. E é ai que mora a solidão. O solus ipso.
Seria tão mais fácil se algumas coisas não dependessem dessas escolhas e acontecessem naturalmente ,como a rotação da Terra...
Mas novamente ,é do complicado que me faço e desfaço ,que aprendo e desaprendo ,é do complicado que crio e existo.
A angustia apenas aumenta. O Destino , o futuro , o mundo... e eu aqui ,responsável por tudo isso ,e sem saber o que fazer. Cálculo ,cujo o resultado é eterno... Número por número. Coisa por coisa.
Entre tudo isso um quarto desarrumado ,com a janela e a porta fechadas. Com espelhos por toda a parte ,que refletem olhos intangíveis ,olhos de ressaca ,como ganchos negros que se fincam em almas.
E no final ,a confusa sou eu. A possibilidade sou eu. As dúvidas ,o mundo ,a solidão ,o quarto ,a porta e a janela ,os espelhos ,os reflexos... sou eu.
Tudo fui ,sou e serei.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

tempo

É estranho evitar a vida. É triste evitar as quedas . É bom evitar as ilusões.
Mas é confuso evitar.
Tudo é uma questão boba do tempo ( ou de acreditar nisso);
O tempo que nos engole ,nos mastiga ,nos digere... (sendo a vida indigestível [?])
Mas eu fico; Presa por cabos de aço meio ao tempo e sua relatividade . Fico ,à companhia de mim mesma para descrever o detalhes minuciosos dessa passagem inflexível do tempo. Como um monólogo sobre este louco ,o Tempo ,sempre apressado e sempre a me rejeitar em seu barco.
O destino do barco ? Céu ? Inferno ? Naufrágio ... ?
Até o tempo é questão de um outro Tempo. O Tempo em que se faz a ação ,em que suas consequências resultaram... Tempo é relativo até pra sí próprio. Tempo está em passado ,presente e futuro . Tempo foi . Tempo está. Tempo vai.
Tempo aqui. Ali. Lá. Acolá.
É inútil evitar o tempo. É loucura evitar o tempo.
Mas a loucura é uma ilha perdida no oceano da razão...

domingo, 30 de maio de 2010

eu-lírico

Sempre me pego buscando o "eu" nos outros ; Seja ficticio ou não.
Leio desesperadamente à procura de mim mesma no personagem principal ,à procura de um nome que se encaixe em mim. Ou ,por convivência social ,tento ser como os outros ,acreditando que isso iria formar um "eu";
Quem sou eu [?]
Sei meu nome. Sei das coisas coisas supérfluas que gosto. Mas isso não me forma. Não são as células que formam meu corpo. Nem a insustentável leveza da minha alma.
Alma... ? Sei lá o que é isso; Sei lá se a tenho.
O que sei sobre mim é que sou um Outono eterno; Sempre velha ,sempre morta ,sempre caindo...; Sempre aos pedaços ,sempre ao meio. Nunca o frio intangível do Inverno ,muito menos o calor insuportável do Verão . Aliás ,a isso agradeço esse meu Outono ,pois o calor é horrível ,cruel e insurgente. Não sei o que é calor ,mas não gosto.
Acho que o desfecho para esta incessante busca é a insatisfação que sinto comigo . Me desprezo ,não me suporto . Finjo que não existo ,e me procuro no que provavelmente invejo - ou não. Ou talvez me procurei tanto em minha admiração que acabei perdendo a parte que eu supostamente admiraria. O que a faz ,talvez ,inexistente.
Não sei o que falta em mim. Mas sinto falta.
Não sou pedaço ,mas não me basto.